Thursday, April 12, 2012

DESPORTISTAS DO PASSADO – Garry Kasparov: Máquina dos tabuleiros

Garry Kasparov nasceu com o nome Garry Weinstein, no dia 13 de Abril de 1963, em Baku, Azerbaijão, filho de mãe arménia e de pai judaico. Na sua infância, teve que lidar com a morte do seu pai, vítima de leucemia, adoptando mais tarde o nome arménio da mãe, Kasparyan, modificando-o para uma versão mais russa, Kasparov.

Desde cedo que se interessou pelo xadrez, pelo que aos 10 anos, já treinava na escola de Mikhail Botvinnik (um ex-campeão mundial). Lá, desenvolveu as habilidades posicionais, bem como diversas técnicas de defesa, ao nível do jogo. Foi acumulando campeonatos de juniores da União Soviética, até que com 15 anos se classificou pela primeira vez para o campeonato de xadrez da União Soviética, o jogador mais novo a disputar a prova. Grande mestre de xadrez, em 1985, aos 22 anos, vive uma das suas mais saborosas vitórias sobre Anatoly Karpov, o seu maior rival, tornando-se o mais novo campeão mundial da história. Até 1993 ostentou sempre o título da Federação Internacional de Xadrez, ano em que uma disputa com a FIDE (Federação Mundial de Xadrez), o levou a criar uma organização rival, onde continuou a vencer até ao ano de 2000, quando foi derrotado por Vladimir Kramnik. Entre as suas conquistas desportivas, incluem-se o facto de ser classificado como número 1 do mundo quase sem interrupção desde 1986 até 2005, 11 Chess Oscars (galardão internacional atribuído ao melhor xadrezista, em cada ano), bem como por sustentar a classificação mais alta de sempre, com 2851.

Polémico na sua vida, Kasparov também o foi no xadrez. Decorria o ano de 1997, quando o russo defrontou uma versão actualizada do Deep Blue (supercomputador criado pela IBM, especialmente para jogar xadrez, capaz de analisar aproximadamente 200 milhões de posições por segundo) e tornou-se no primeiro campeão mundial a ser derrotado. Não aceitou a derrota, afirmando que a IBM foi contra as regras, tendo sido utilizada mão humana, enquanto decorriam os jogos, facto negado pela companhia. Em 2005, retira-se da modalidade, para segundo ele, se dedicar a outras actividades... porque o mundo de Kasparov nunca foi somente o xadrez. Com umas capacidades intelectuais fora do comum, sendo por muitos considerado uma das mentes mais brilhantes do nosso tempo, o xadrezista russo, dedicou-se também desde muito cedo à política. Entre 1984 e 1990, foi membro do Comité Central de Komsomol (organização juvenil do Partido Comunista da União Soviética), e membro do mesmo partido. Opositor do governo liderado por Vladimir Putin, Kasparov candidatou-se às eleições russas no ano de 2008. Porventura, por "obstáculos impostos pelo Kremlin", viria mais tarde, a desistir. São também conhecidas as suas manifestações públicas contra Putin, acontecimentos que já lhe valeram duas detenções.

Outra das paixões de Kasparov é a escrita. Autor de variados livros sobre o jogo de xadrez, bem como de "A vida imita o xadrez", onde podemos encontrar lições de estratégia, bem como formas de optimizar a memória, a intuição e a imaginação. É também um grande orador, tendo estado presente em Portugal no ano de 2011, onde falou aos seus ouvintes sobre aspectos de liderança. Além das "batalhas infindáveis" que travou com Karpov, afirmando mesmo que só atingiu um nível tão elevado porque o seu compatriota assim o obrigava, Kasparov ficou também célebre por diversas frases, entre as quais o VM destaca:
"Chefe dos chefes, padrinho dos padrinhos" (sobre Vladimir Putin)
"Xadrez é tortura mental."
"Foi inevitável para mim entrar na luta política depois de jogar essas partidas intermináveis com Anatoli Karpov, que era meu maior rival e também o queridinho do sistema."
"Aprendi que lutar no tabuleiro de xadrez poderia também ter um impacto no clima político no país." 

Apesar do xadrez ser um desporto pouco espectacular, podemos considerar que Kasparov é uma espécie de Michael Jordan no seu desporto? Estamos perante um dos maiores génios do nosso tempo?

A. Carvalho