Friday, March 30, 2012

Mundial sub-20 não mudou a mentalidade e o Braga (líder da Liga) é a excepção a esta tendência de vermos Portugal como uma selecção inferior a partir de 2016; Porto sem formação, Benfica sem portugueses, Sporting sem capacidade para contrariar a tendência...Soluções?

O último jogo do Benfica para a Liga dos Campeões foi disputado sem qualquer português nos 14 jogadores que pisaram o relvado do Estádio da Luz. Até as outras três equipas que jogaram no mesmo dia do Benfica utilizaram portugueses (APOEL, Real Madrid e Chelsea). Com o FC Porto e Sporting a seguirem as mesmas pisadas do clube da Luz, poderemos dizer que Paulo Bento não terá grandes opções nos 3 grandes para o Euro 2012. O FC Porto utiliza com regularidade Rolando e João Moutinho, enquanto que Varela está num plano inferior. Já o Sporting utiliza Rui Patrício e João Pereira, enquanto que Carriço, André Santos, André Martins e Pereirinha têm uma utilização mais intermitente. Quando se fala que para os clubes portugueses terem maior competitividade, têm que utilizar mais estrangeiros, o Sp. Braga vem provar o contrário, pois Leonardo Jardim tem apostado em Quim, Hélder Barbosa, Custódio, Hugo Viana e, mais recentemente, em Nuno André Coelho e Miguel Lopes, para além de Ukra sair com regularidade do banco de suplentes e Ruben Amorim também ter sido opção até se lesionar. Contudo, é o futuro que poderá estar em causa, já que para 2012, Portugal tem excelentes opções a jogar no estrangeiro. Mas a partir de 2016 quando Ronaldo, Nani, Pepe, Moutinho, Veloso e Meireles, por exemplo, estiverem na casa dos 30 anos, as alternativas serão muito poucas ou nenhumas.

Após a brilhante campanha no Mundial sub-20, pensava-se que estaria dado o mote para mudar a mentalidade dos dirigentes dos clubes portugueses, no que toca à contratação de jogadores e aposta no produto nacional, contudo, parece que aconteceu o contrário. Dos jogadores que fizeram parte da campanha portuguesa na Colômbia, poucos jogam com regularidade nos principais campeonatos. Para além disso, chegou agora à discussão o alargamento da Liga ZON-Sagres de 16 para 18 clubes. Uma medida que, ao manter-se a política de contratação de estrangeiros, só vai abrir o mercado português a mais jogadores sul-americanos em detrimento do jogador português.

Depois de o FC Porto ter acabado a temporada passada sem nenhum jogador da sua formação no plantel (algo único na história do clube), 2011-12, com o empréstimo de Ventura e Castro o cenário não foi diferente. Já no Benfica, com a saída de Coentrão como seria expectável actuou 95% das partidas sem nenhum jogador português no 11 (Nélson Oliveira foi o único a contrariar este cenário). Por sua vez, o Sporting que era a excepção e de longe o melhor exemplo para o futebol nacional, não conseguiu resistir à tendência e contratou 19 jogadores (todos estrangeiros). Três clubes, três equipas que deviam ser exemplo para todas as outras a nível nacional, mas que com esta política estão a contribuir para uma falta de identidade do futebol português. No plano económico, está igualmente provado que o jogador português é dos que vende melhor no Mundo, como tal, esta aposta nula é uma má política de mercado (como querem vender jogadores como o Nani, Coentrão, Carvalho, se não apostarem neles?). Os outros clubes da Liga Zon-Sagres infelizmente dão continuidade a este flagelo e salvo algumas excepções o cenário pouco animador. Como tal, parece-nos oportuno voltar referir o projecto que o Visão de Mercado elaborou para o futebol português e destacou em Setembro de 2010.

Soluções?

O Visão de Mercado sugere algumas soluções a aplicar pela Liga de Clubes, como forma a reduzir esta invasão de jogadores extracomunitários. As medidas são na nossa perspectiva realistas e de acordo com os padrões do futebol português. A saber:
- O número de inscrições na Liga ZON-Sagres fica fixado nos 27 jogadores, no entanto, desse número, pelo menos 5 jogadores terão que ter sido formados no clube (a mesma regra da UEFA: ter jogado pelo menos 3 anos no seu clube, entre os 15 e os 21 anos).
- Para equilibrar o número de jogadores portugueses no 11 inicial, sugerimos que obrigatoriamente em todos os jogos, as equipas coloquem 4 jogadores nacionais de inicio, como forma a que joguem pelo menos 64 portugueses no fim-de-semana desportivo. Esta medida (que como é óbvio seria gradual, ou seja no próximo ano 2, daqui a 2 anos ter de utilizar 3, até que em 2015 teria a obrigação dos 4 portugueses), obrigaria os clubes nacionais a terem um plantel com pelo menos 10-12 jogadores nacionais, como forma de prevenir qualquer lesão ou castigo. Recordamos que por exemplo no campeonato russo há uma obrigatoriedade de as equipas apresentarem 6 jogadores russos no 11.
- Limitar as transferencias de jogadores do exterior para 8 ou 10 (desde que pelos menos 5 deles sejam internacionais por qualquer escalão de formação do seu país). Esta medida visa reforçar as trocas internas, fomentando a circulação interna do dinheiro e maior equilíbrio das contas dos clubes.
- Quanto à limitação de jogadores extracomunitários, consideramos essa medida um pouco xenófoba, preferindo a obrigatoriedade de utilizar jogadores nacionais, em vez de restringir a entrada de extracomunitários.

Em relação à II Liga, seria também razoável implementar a obrigatoriedade de inscrever mais jogadores portugueses (pelo menos 14 jogadores em 27, 5 jogadores da formação e 5 jogadores no onze inicial). Quanto aos escalões de formação, seria importante obrigar os clubes a utilizar pelo menos 8 jogadores nacionais no onze inicial, como forma de fomentar a formação de jogadores portugueses. É lamentável não conseguirmos estar de maneira assídua nas grandes competições juvenis (o último Mundial sub-20 foi a excepção), e pela forma como países como a Alemanha, Bélgica, França, Espanha e até a Inglaterra estão a trabalhar há muito perdemos o estatuto de potência ao nível da formação.

PS - Caso os 4 principais clubes nacionais utilizassem regularmente pelo menos 4 jogadores nacionais de inicio, formariam uma boa base de apoio para a selecção nacional, pois seriam 16 jogadores em competição acesa na Liga Nacional, e quem sabe nas Competições Europeias. Quem ficava a ganhar era a selecção nacional!

Que medidas equaciona para uma melhoria do nosso futebol? O que acrescentaria ou retirava às ideias do Visão de Mercado para permitir evoluir a nossa Liga em termos de sustentabilidade dos clubes, indirectamente ajudar o futuro da nossa selecção, e para dar mais condições ao jogador português? Recordamos que em 2004 (parece que foi há um século, mas foi há meia dúzia de anos) o Porto de Mourinho venceu a Liga dos Campeões com 9/10 portugueses a jogar assíduamente, como tal, a ideia de os clubes só poderem ser mais competitivos com jogadores estrangeiros não faz sentido. E se os nossos melhores querem sair, ao menos que se criem condições para outros apareceram e mostrar o seu valor...e para isso só actuando com regularidade. Poderá Portugal estar a correr sérios riscos em termos de afirmação da nossa selecção no futuro?