Wednesday, March 21, 2012

Adriano: O Imperador que nunca reinou

"Que artista o mundo vai perder!". Foi assim, desta forma, que o imperador romano Nero se despediu após ter morto mãe, filhos, tutores, senadores e esposas. Havia enlouquecido pelo declínio que então se antevia ao outrora pujante Império. Em seguida, matou-se. Um pouco à imagem de Adriano que, tal como Nero, parecia ter tudo para governar a grande área a seu bel-prazer. Estranho, ainda por cima após tamanha demonstração de poder, aos 23 anos, na Taça das Confederações pelo Brasil. Estranho, para quem, aos 19 anos, e na sua estreia pelo Inter de Milão, desfere um imparável remate, em pleno Bernabéu, que só acaba no fundo das redes do Real Madrid. No entanto, esse golo não foi o suficente para que o brasileiro permanecesse em Milão. Emprestado à Fiorentina, parece dar mostras de querer explodir: 6 golos em 15 jogos. Estávamos em 2003 e o Parma procurava montar um ataque de peso na luta pela Taça UEFA. Reforça-se com Adrian Mutu, tenta o passe de Adriano. O Inter não quer vender o avançado, e avança para uma co-propriedade junto do clube parmesão. Em 2002/2003 foram considerados a dupla mais temível da Série A. A maior parte dos golos de Mutu advinham de assistências de Adriano, e vice-versa. Regressa ao Inter onde era considerado por muitos o avançado mais temível do Mundo. Golos incríveis, remates poderosos, capacidade de choque e drible fora do comum para um atleta com tamanha estampa. Já nem se poderia argumentar que seria uma promessa que apenas não tinha explodido. Adriano, o Imperador, tinha feito nome. Desde então, a carreira deste vem descendo uma ladeira que parece não ter fim. O jogador que chega ao Mundial alemão, em 2006, já não era o mesmo. Os problemas no controlo do peso já eram evidentes e, apesar de Adriano não ter sido dos principais culpados do descalabro da canarinha naquele torneio, as suas prestações ficaram longinquamente aquém das anteriores. O ainda Imperador continuava a sua marcha penosa ladeira abaixo. Nos anos seguintes, os problemas de peso não acabaram, aos quais se juntaram os escândalos extra-futebol e um rendimento empobrecido pelo mau nome que já transportava consigo no Brasil. Apesar das várias associações ao mundo do crime brasileiro, Adriano ainda fez suspirar de esperança o adepto do futebol quando, em 2008, teve bons desempenhos com a camisola da tricolor, o São Paulo. Decidiu anunciar o seu afastamento do futebol. Esbofeteou a namorada. Consumiu nas favelas locais. O nome do Imperador estava manchado, mas isso não chegou para que os responsáveis do Flamengo hesitassem em chamá-lo. Parecia que 2009 seria o seu ano: assinara com o clube do coração, vinha recuperando para o futebol e liderou os rubro-negros na conquista de um Brasileirão que fugia desde 1992. Ecos da Europa acreditavam no seu renascimento. A Roma, a Roma!, mais de um milhar de anos após a queda do último grande imperador romano, clamava por novo patrono do seu ataque. Foi, mas a escolha revelar-se-ia tão penosa como a daqueles treinadores da distrital que fazem entrar mais dois avançados quando estão a perder. Regressou ao Brasil, ao endinheirado Corinthians. O mesmo Corinthians que agora o despede, alegando justa causa.

Actualmente sem clube, e com 30 anos, já pouco restará para Adriano no futebol (veja alguns dos seus melhores momentos aqui!). Fala-se, à boca pequena, que o adepto do Flamengo deseja o seu regresso. Poderá ser, mas desta feita de certeza que lhe será atribuído apenas o título de soldado raso, já que quando teve a coroa na cabeça, atirou-a...ladeira abaixo.

A.Borges